Estudantes conseguem entender com uso de sinais e recursos tecnológicos. Disciplina é optativa para alguns cursos do Instituto Federal de Goiás (IFG).
Além dos slides e imagens, o professor faz comparações entre as
gramáticas da Libras e do Português e faz traduções entre as duas
linguagens. Com o movimento das mãos e expressões aguçadas, Luiz envolve
os alunos, que participam o tempo todo das explicações e se ajudam
entre si quando alguém não compreende um determinado ponto. O silêncio
das aulas só é quebrado quando o professor faz alguma graça e as risadas
tomam conta do ambiente.
Luiz nasceu no município de Sertânia,
no interior do Pernambuco, e mudou com a família para Goiânia em 1995.
Os pais dele moraram na capital por quatro anos, mas decidiram voltar
para o estado natal. Ele preferiu continuar na cidade, onde já estudava a
linguagem de sinais. Em 2006 começou a cursar Licenciatura em
Letras-Libras, em um convênio entre o IFG e a Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), que formou a primeira turma a distância em 2010.
Para ela, optar pelas aulas de Libras será importante para o sucesso
profissional. “Eu já falo japonês fluente e queria ter mais um
diferencial. Encontrei na linguagem de sinais o que eu precisava, pois
são pouquíssimas as pessoas que dominam e acredito que isso agrega valor
ao currículo”, ressaltou Célia.
Para o estudante de engenharia mecânica David Uander, 27 anos, a
paciência do professor com os alunos também é importante para favorecer o
aprendizado. “Ele repete um movimento até 20 vezes se for necessário.
Além disso, aprendemos o alfabeto e, quando alguém não entende, é
possível ‘soletrar’ o que se quer dizer. Mas acho que o mais importante
de tudo é que ele é divertido e faz o que for necessário para ser
compreendido”, afirmou.
David também escolheu cursar a disciplina optativa para agregar
conhecimentos a carreira. “Eu já tive contato com Libras a partir de um
folheto que ganhei em um ônibus. Sozinho, comecei a me informar sobre a
linguagem e queria muito aprender. Quando soube sobre a possibilidade de
estudar aqui no IFG, não pensei duas vezes. Acho que em qualquer área
que se escolha trabalhar é importante dominar todos os tipos de
comunicação”, disse o estudante.
Além de Luiz, outros três integrantes da família são surdos. Ele conta
que aprendeu a entender o que os ouvintes falavam ao prestar muita
atenção nas conversar de uma irmã. Aos 4 anos, ainda em Pernambuco, ele
começou a ser alfabetizado em uma escola que ensinava Libras para
crianças surdas.
Já na 4ª série do ensino fundamental, Luiz passou a estudar em uma
escola regular, onde só havia alunos e professores ouvintes. “Foi um
desafio intenso, porque não tive intérprete e utilizava o método
oralista junto com a Libras”, lembra o professor.
Após mudar para Goiânia, ele passou a estudar no Sistema Educacional
Chaplin. “Lá, aprendi ainda mais sobre Libras e passei, de fato, a
dominar a linguagem de sinais”, destacou. Luiz lembra que decidiu virar
professor enquanto estudava em outra instituição particular na capital,
pois as pessoas o incentivaram dizendo que ele era bom para ensinar.
Desafios
Ele seguiu o conselho e realiza as atividades na sala de aulas sem
maiores transtornos. No entanto, as relações com as partes burocráticas
da função ainda são grandes desafios. No IFG, Luiz conta com a ajuda da
psicóloga Maraiza Oliveira Costa, uma das poucas pessoas que trabalham
no instituto e conseguem se comunicar na linguagem de sinais com ele.
“Ainda estou aprendendo, mas consigo entendê-lo bem. Durante as aulas, o
Luiz domina a comunicação sem problemas, mas quando precisa tratar de
assuntos acadêmicos ou em reuniões, fica bem complicado. Existem algumas
palavras que são complexas demais e fica difícil para ele entender. Mas
vamos ajudando na medida do possível”, explicou Maraiza.
Apesar das dificuldades, Luiz afirma que consegue lidar bem com as
pessoas e diz que nunca foi alvo de preconceito. Segundo ele, os surdos
podem atuar em qualquer profissão, desde que a audição não seja um
requisito fundamental. “É preciso ter maior divulgação dos cursos para
que as pessoas surdas tenham interesse e busquem a formação superior”,
acredita.
Fonte: G1 |
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