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terça-feira, 22 de abril de 2014

Professor surdo ministra aulas de Libras para alunos ouvintes em Goiás

Estudantes conseguem entender com uso de sinais e recursos tecnológicos.
Disciplina é optativa para alguns cursos do Instituto Federal de Goiás (IFG).

 

Além dos slides e imagens, o professor faz comparações entre as gramáticas da Libras e do Português e faz traduções entre as duas linguagens. Com o movimento das mãos e expressões aguçadas, Luiz envolve os alunos, que participam o tempo todo das explicações e se ajudam entre si quando alguém não compreende um determinado ponto. O silêncio das aulas só é quebrado quando o professor faz alguma graça e as risadas tomam conta do ambiente.
Luiz nasceu no município de Sertânia, no interior do Pernambuco, e mudou com a família para Goiânia em 1995. Os pais dele moraram na capital por quatro anos, mas decidiram voltar para o estado natal. Ele preferiu continuar na cidade, onde já estudava a linguagem de sinais. Em 2006 começou a cursar Licenciatura em Letras-Libras, em um convênio entre o IFG e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que formou a primeira turma a distância em 2010.
Para ela, optar pelas aulas de Libras será importante para o sucesso profissional. “Eu já falo japonês fluente e queria ter mais um diferencial. Encontrei na linguagem de sinais o que eu precisava, pois são pouquíssimas as pessoas que dominam e acredito que isso agrega valor ao currículo”, ressaltou Célia.
Para o estudante de engenharia mecânica David Uander, 27 anos, a paciência do professor com os alunos também é importante para favorecer o aprendizado. “Ele repete um movimento até 20 vezes se for necessário. Além disso, aprendemos o alfabeto e, quando alguém não entende, é possível ‘soletrar’ o que se quer dizer. Mas acho que o mais importante de tudo é que ele é divertido e faz o que for necessário para ser compreendido”, afirmou.
David também escolheu cursar a disciplina optativa para agregar conhecimentos a carreira. “Eu já tive contato com Libras a partir de um folheto que ganhei em um ônibus. Sozinho, comecei a me informar sobre a linguagem e queria muito aprender. Quando soube sobre a possibilidade de estudar aqui no IFG, não pensei duas vezes. Acho que em qualquer área que se escolha trabalhar é importante dominar todos os tipos de comunicação”, disse o estudante.

Além de Luiz, outros três integrantes da família são surdos. Ele conta que aprendeu a entender o que os ouvintes falavam ao prestar muita atenção nas conversar de uma irmã. Aos 4 anos, ainda em Pernambuco, ele começou a ser alfabetizado em uma escola que ensinava Libras para crianças surdas.
Já na 4ª série do ensino fundamental, Luiz passou a estudar em uma escola regular, onde só havia alunos e professores ouvintes. “Foi um desafio intenso, porque não tive intérprete e utilizava o método oralista junto com a Libras”, lembra o professor.
Após mudar para Goiânia, ele passou a estudar no Sistema Educacional Chaplin. “Lá, aprendi ainda mais sobre Libras e passei, de fato, a dominar a linguagem de sinais”, destacou. Luiz lembra que decidiu virar professor enquanto estudava em outra instituição particular na capital, pois as pessoas o incentivaram dizendo que ele era bom para ensinar.
Desafios
Ele seguiu o conselho e realiza as atividades na sala de aulas sem maiores transtornos. No entanto, as relações com as partes burocráticas da função ainda são grandes desafios. No IFG, Luiz conta com a ajuda da psicóloga Maraiza Oliveira Costa, uma das poucas pessoas que trabalham no instituto e conseguem se comunicar na linguagem de sinais com ele.
“Ainda estou aprendendo, mas consigo entendê-lo bem. Durante as aulas, o Luiz domina a comunicação sem problemas, mas quando precisa tratar de assuntos acadêmicos ou em reuniões, fica bem complicado. Existem algumas palavras que são complexas demais e fica difícil para ele entender. Mas vamos ajudando na medida do possível”, explicou Maraiza.

Apesar das dificuldades, Luiz afirma que consegue lidar bem com as pessoas e diz que nunca foi alvo de preconceito. Segundo ele, os surdos podem atuar em qualquer profissão, desde que a audição não seja um requisito fundamental. “É preciso ter maior divulgação dos cursos para que as pessoas surdas tenham interesse e busquem a formação superior”,  acredita.

 Fonte: G1

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